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Alergia à Proteína do Leite de Vaca em Crianças
Compreender para Evitar Armadilhas
A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma condição alérgica relativamente comum em crianças, onde o sistema imunológico reage exageradamente às proteínas do leite de vaca. Essa resposta pode desencadear sintomas muito variados, desde leves irritações na pele na região de fraldas, passando por diarreia com sangue, até reações graves, levando à dificuldade respiratória.
No entanto, como veremos hoje, a maior parte dos casos é mais leve, o que inclusive torna difícil a confirmação do diagnóstico. Isso gera uma tendência a um “hiper diagnóstico” de APLV, levando a alterações na alimentação das crianças, o que por sua vez causa mais sobrecarga para mães, pais e cuidadores.
Sintomas e Suspeitas
Os sintomas mais comuns que levam à suspeita do diagnóstico de APLV são diarreia (com ou sem presença de sangue nas fezes), assaduras intensas, urticária (manchas vermelhas na pele), choro intenso após alimentação e, menos frequentemente, sintomas respiratórios.
Mas... vamos pensar. Choro intenso, fezes mais líquidas, assaduras... são eventos comuns no dia a dia de crianças pequenas. Podemos assim, “de cara”, afirmar que estamos diante de uma manifestação alérgica?
A resposta é não. E essa é uma questão importante quando abordamos esse tema. O “preço” de um diagnóstico de probabilidade de APLV pode ser alto. Isso porque muitas vezes temos que interromper o aleitamento materno, ou submeter as mães a dietas de exclusão muito restritivas (sem qualquer derivado de leite). Sem contar que as fórmulas para utilização em casos de APLV não são nada baratas.
Diagnóstico: Precisão Imprecisa
Como mencionamos acima, os sinais e sintomas que trazem a suspeita de APLV são amplos e, muitas vezes, pouco específicos. E as ferramentas para estabelecimento de um diagnóstico preciso têm limitações. Isso acontece porque a maior parte dos casos de APLV não geram aumento da liberação de imunoglobulinas na pele ou na corrente sanguínea, dificultando essa confirmação.
A opção para a confirmação diagnóstica nesses casos seria a realização de exames mais invasivos (colonoscopia com biópsia, por exemplo). Mas na maioria dos casos não vale a pena submeter a criança a esse tipo de procedimento.
Diante dessa imprecisão, que opções temos? Testes de pele, exames de sangue e, em alguns casos, provocação oral, são ferramentas utilizadas por alergologistas. Mas, como descrito acima, o grau de positividade é baixo. Assim, trabalha-se muito com o diagnóstico de probabilidade. E a “confirmação” desse diagnóstico acaba vindo com uma eventual melhora dos sintomas com o tratamento (suspensão do uso de leite e derivados – pela criança e pela mãe, nos casos de bebês em aleitamento materno).
Evitando Armadilhas: Tratamento e Manejo Adequados
A importância da Orientação Médica:
Ao notar sintomas que sugerem APLV, consulte um pediatra ou alergologista. Não inicie restrições alimentares sem orientação profissional, evitando potenciais complicações nutricionais. Como discutimos acima, muitos dos sintomas que podem ser atribuídos à alergia também podem ter outras causas, inclusive de origem não patológica. O pediatra pode orientar sobre qual o melhor momento para iniciar uma restrição alimentar, ou mesmo contraindicar essa restrição.
Substitutos Adequados:
Em casos de diagnóstico confirmado, substitutos adequados, como fórmulas à base de aminoácidos, podem ser necessários. O acompanhamento próximo do pediatra é vital para garantir o desenvolvimento saudável da criança, e para evitar o uso desnecessário de fórmulas caras.
Desmame Controlado:
Nos casos em que a restrição alimentar se mostra necessária, esse processo deve ser acompanhado de perto pela equipe de saúde. A introdução controlada de alimentos alergênicos após determinado período, com monitoramento médico, é fundamental. Esse acompanhamento permite que a restrição dure o menor tempo possível.
Prognóstico
Na maior parte dos casos, a APLV tende a ser transitória. Após algum tempo de restrição, a criança pode voltar a reintroduzir os derivados de leite em sua alimentação. É importante, no entanto, que esse processo seja acompanhado de perto pelo pediatra. Casos mais graves podem necessitar de restrição mais prolongada, com exames complementares e acompanhamento por especialistas em alergologia e gastroenterologia.
Com o acompanhamento adequado, podemos assistir da melhor forma a criança com suspeita de alergia à proteína do leite de vaca, evitando os diagnósticos excessivos, e iniciando substituições e restrições quando necessário.
Diante de dúvidas com relação a sintomas que possam estar ou não relacionados a alergias alimentares, converse com seu pediatra. Ele será capaz de ajudar a esclarecer essas dúvidas, contribuindo para o desenvolvimento saudável das crianças.
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