Corticosteroides em Pediatria

Benefícios e Preocupações

Corticoides. Diante de alguns dos sintomas mais frequentes no dia a dia de quem cuida de crianças, como tosse, coriza, dores de ouvido e garganta, muitas vezes pais e mães vêm com a pergunta: “será que não vale fazer uso de corticoide?”. Como com quase toda a pergunta do tipo, a resposta não é automaticamente nem sim, nem não.

Na edição de hoje da newsletter, abordaremos as informações mais relevantes sobre o uso de corticosteroides em crianças. Indicações, vantagens e riscos relacionados à sua utilização.

O que são os corticosteroides?

Corticosteroides são medicamentos que contêm hormônios produzidos naturalmente nas glândulas suprarrenais. Esses hormônios desempenham papel crucial no controle da inflamação, resposta imunológica e regulação de processos no corpo, sendo usados tanto naturalmente quanto de forma sintética em tratamentos médicos.

Sob o ponto de vista medicamentoso, os corticosteroides podem ser administrados por via oral, com maior absorção pela corrente sanguínea e, consequentemente, efeitos clínicos mais rápidos e eventuais efeitos colaterais mais pronunciados. Outras vias de administração utilizadas são a via inalatória, indicada em doenças respiratórias como asma ou rinite, e a via tópica, utilizada em afecções dermatológicas.

Uso comum dos corticosteroides em crianças

Os corticosteroides são frequentemente prescritos para crianças com o objetivo de tratar condições como asma, alergias, dermatites. Nesses casos, frequentemente são utilizados por períodos curtos (5 a 7 dias), buscando o controle dos sintomas e minimizando a incidência de efeitos colaterais (mais frequentes com o uso prolongado). Esses exemplos citados são aqueles que há menos dúvida sobre a utilização.

A complexidade aumenta quando estamos lidando com quadros respiratórios menos claros. Por exemplo, viroses respiratórias mais prolongadas, tosses noturnas persistentes, congestão nasal... essas não são, no geral, indicações para o uso de corticoides. Contudo, muitos pais e cuidadores, por experiências prévias de alívio de sintomas, consideram essa possibilidade. Vale sempre a conversa com seu pediatra para pensar nas melhores opções em cada caso.

Outra utilização frequente dos corticosteroides, menos comum, mas não menos importante, é no caso de doenças inflamatórias, imunológicas e reumatológicas crônicas. Nesse caso, muitas vezes é necessária uma utilização mais prolongada, saindo um pouco da rotina de períodos curtos de uso. Claro que são casos mais específicos e que devem ser acompanhados de perto pelos médicos especialistas.

Riscos associados ao uso de corticosteroides

Como qualquer medicação, os corticosteroides têm efeitos colaterais relacionado à sua utilização. Nesse caso, há uma preocupação a mais, por estarmos falando de substâncias que interagem com a regulação hormonal do corpo da criança, podendo influenciar diversos aspectos da fisiologia do organismo.

O uso muito frequente ou contínuo, em especial, pode ocasionar quadros de ganho de peso, redução da velocidade de crescimento e supressão da produção de hormônios pela glândula adrenal, dificultando a resposta do corpo a infecções. Ainda que haja estudos sugerindo que o corticoide por via inalatória possa também estar associado a alguns desses efeitos, a observação prática sugere que é extremamente incomum.

Com relação ao uso esporádico dos corticosteroides, algumas das possibilidades de efeitos colaterais mais comuns são dor abdominal, agitação psicomotora (com agressividade de distúrbios do sono) e aumento da pressão arterial.

Apesar disso, análises extensas baseadas em evidência têm mostrado a segurança do uso dos corticosteroides em ciclos curtos por via oral. Ou seja, mesmo quando efeitos colaterais aparecem, tendem a ser limitados, de resolução rápida, e sem trazerem impacto grave na saúde das crianças. O mesmo acontece com o uso prolongado dos corticosteroides inalatórios.

Equilíbrio

Como vimos aqui hoje, os corticosteroides têm suas indicações para uso no dia a dia das crianças. No caso dos corticosteroides por via oral, as indicações mais clássicas (e com mais potencial comprovado de boa resposta) são a exacerbação de doenças respiratórias alérgicas, como asma, rinite e, eventualmente, laringite. Em alguns casos específicos, determinadas afecções de ouvido e garganta também podem se beneficiar.

Em todos esses casos, os ciclos curtos de uso dos corticosteroides orais são seguros, com um perfil de efeitos colaterais bem tolerado. Contudo, esse bom potencial de resposta traz um desafio para mães, pais e cuidadores, bem como para os profissionais de saúde. É muito frequente que as crianças tenham sintomas como tosse, coriza, secreção e congestão nasais, e similares. Diversos fatores contribuem para isso (alguns deles já abordamos por aqui em outras edições da newsletter). Pode ser atrativa para os cuidadores a ideia de que os corticosteroides sejam uma panaceia, capaz de “secar todas as secreções”. Mas não é bem assim. Os efeitos colaterais existem, e se amplificam com o uso mais prolongado.

O acompanhamento regular da criança pelo pediatra, com troca de informações e orientações entre o profissional e a família, permite que a decisão sobre o uso desse tipo de medicação seja tomada pesando os prós e contras, e objetivando o melhor para a saúde da criança não apenas imediatamente, mas também em longo prazo.

 Até a próxima!

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