Exposição a ruídos

Impactos na saúde de crianças e adolescentes

Conversas, músicas, brincadeiras, a vida na cidade... os sons fazem parte da nossa vida e do dia a dia de crianças e adultos. Muitas vezes, em especial no cenário urbano, não percebemos que estamos no expondo a sons muito elevados, que podem trazer prejuízos para a saúde, em especial para a audição.

Hoje falaremos um pouco sobre o impacto do ruído excessivo na saúde de crianças e adolescentes. Os dados aqui elencados fazem parte de uma recomendação recente publicada pela Academia Americana de Pediatria.

Som e Ruído

O som é uma parte essencial da nossa experiência diária, sendo criado por vibrações que se propagam através de um meio, como o ar ou a água. Essas vibrações possuem características distintas, como intensidade, frequência, periodicidade e duração.

A intensidade do som, associada ao volume, é medida em decibéis (dB), enquanto a frequência, conhecida como tom, é medida em Hertz (Hz). Frequências relacionadas à fala humana geralmente se situam entre 250 e 8000 Hz. É importante destacar que a percepção da intensidade do som varia de acordo com a frequência. Uma escala logarítmica chamada "A-weighted dB" (dBA) é utilizada para entender como diferentes frequências afetam o ouvido humano.

O ruído, definido como som indesejado, pode ser categorizado como ocupacional, ambiental externo, ambiental interno e recreativo. Em ambientes de trabalho, padrões são estabelecidos para proteger os trabalhadores da exposição excessiva ao ruído. Contudo, disparidades nessas exposições são observadas, frequentemente afetando grupos socioeconômicos menos privilegiados.

Impactos dos Ruídos na Saúde

O ruído ambiental, proveniente de fontes como tráfego, aeronaves, eletrodomésticos e brinquedos barulhentos, é uma preocupação significativa de saúde pública. A exposição prolongada a níveis elevados de ruído está associada a uma variedade de problemas de saúde, incluindo distúrbios auditivos, distúrbios do sono, dificuldades de aprendizado e irritabilidade. Crianças, devido ao seu sistema auditivo em desenvolvimento, são particularmente suscetíveis a esses impactos.

Uma questão bem atual se refere à utilização de dispositivos de som de uso individual (os populares fones de ouvido). Esses dispositivos são muito usados por crianças e adolescentes para jogar jogos, ouvir músicas ou conversar por telefone, e podem estar associados a exposições a ruídos particularmente elevados.

A perda auditiva neurossensorial é uma consequência séria da exposição prolongada ao ruído. Ela ocorre quando as células ciliadas da cóclea ou o nervo auditivo são danificados. Essa forma de perda auditiva é permanente e geralmente associada a exposições repetidas a sons altos ou eventos de alta intensidade. Crianças podem ser afetadas por uma única exposição intensa ou por exposições prolongadas ao longo do tempo.

A perda auditiva neurossensorial impacta a compreensão da fala, com as consoantes sendo mais afetadas em frequências mais altas, enquanto as vogais permanecem relativamente normais. Como resultado, indivíduos com esse quadro podem ter dificuldades em entender a fala em ambientes ruidosos. Essa condição pode ter consequências significativas para o desenvolvimento da linguagem e a aprendizagem em crianças.

Além dos efeitos auditivos, o ruído pode ter outros impactos, incluindo estresse fisiológico, distúrbios do sono e problemas de aprendizado. Em crianças, a exposição ao ruído pode levar a problemas relacionados ao sono. Entre esses, podemos citar o sono fragmentado, a redução do tempo total de sono e diminuição da atenção diurna, o que, consequentemente, influencia negativamente a qualidade de vida geral.

Recomendações para Pais e Cuidadores:

Durante as consultas, o pediatra pode orientar sobre os comportamentos do dia a dia, e sobre seu impacto na audição. Não apenas da criança, mas de toda a família, já que, no caso de mães, pais e cuidadores, cada atitude que tomamos é uma medida educacional (intencionais ou não) para as crianças.

Além disso, o pediatra pode e deve avaliar o desenvolvimento das crianças, reconhecendo possíveis impactos da exposição a ruídos no progresso esperado. Nesse caso, o direcionamento para uma avaliação específica da audição pode ser importante.

Independente disso, algumas medidas podem ser adotadas preventivamente por pais e cuidadores para o controle dessa exposição.

1. Controle do Ambiente Acústico:

 - Evitar exposição prolongada a ambientes excessivamente ruidosos, como shows e eventos esportivos.

 - Considerar o uso de protetores auriculares ou abafadores de som em situações barulhentas para crianças de todas as idades.

2. Limitação do Volume em Dispositivos de Áudio:

 - Monitorar e restringir o volume em dispositivos de áudio pessoais, como tablets, smartphones e fones de ouvido.

 - Ensinar crianças mais velhas sobre a importância de manter um volume seguro ao usar dispositivos de áudio.

Adotar essas recomendações contribui não apenas para a preservação da saúde auditiva, mas também para o desenvolvimento global e o bem-estar das crianças. Ao criar uma conscientização coletiva sobre a importância de ambientes auditivamente seguros, pais e profissionais de saúde podem colaborar para garantir um futuro auditivo saudável para as gerações mais jovens.

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