Febre em crianças

Informações e Orientações

Febre. Na rotina de quem cuida de crianças, esse é um evento bem comum. Evento que vem, na maioria das vezes, acompanhado de certa preocupação. “O que pode ser essa febre? Preciso fazer alguma coisa? Vai evoluir para algo mais grave?”

Na edição de hoje da Newsletter, vamos falar um pouco sobre o que fazer diante de uma criança com febre, tanto no que diz respeito às medidas imediatas para trazer alívio (para as crianças, mas também para seus cuidadores!) quanto à eventual necessidade de avaliação por profissionais de saúde.

O QUE É FEBRE?

A febre é uma elevação da temperatura corporal em resposta a um estímulo. Muitas vezes, esse estímulo é uma infecção, mas nem sempre. Qualquer coisa que altere a autorregulação da temperatura (meio que um termostato do organismo) pode causar febre.

E a partir de que temperatura pode se dizer que a criança está com febre? Até isso é um pouco controverso. No geral, entretanto 37,8 ou 38°C são os “pontos de corte” mais utilizados. Como a faixa de temperatura considerada normal vai até em torno de 37°C, temos uma janela intermediária meio indefinida, que é quando dizemos que a criança está “subfebril”.

MEDINDO A TEMPERATURA

Dentro da cultura brasileira, o método mais tradicional de medição da temperatura corporal é através do uso de termômetros axilares. Seja os mais antigos termômetros de vidro, com coluna de mercúrio, ou os mais modernos, digitais, o princípio é o mesmo. 3 a 5 minutos embaixo do braço e pronto.

Apesar disso, essa não é a forma mais precisa de aferir a temperatura. A medição da temperatura tanto no ânus (introduzindo o termômetro 0,5 a 1cm) quanto na boca são mais precisas do que a medição nas axilas. Se é extremamente necessário realizar a aferição dessa forma? Na minha opinião, não.

Existem ainda os termômetros baseados em sensores infravermelhos, de medição nas orelhas ou na testa, por aproximação. Embora essa tecnologia esteja avançando em precisão, a margem de erro ainda é maior que a dos métodos mais antigos.

Não é recomendado medir a temperatura da criança estimando-a pela sensação do toque da mão na pele da criança. Isso sofre muita influência da temperatura da mão pessoa que tentando aferir a temperatura da criança.

CAUSAS DA FEBRE

A infecção é a causa mais comum de febre em crianças, em especial as infecções virais. Mas muitas vezes também a febre está ligada a infecções bacterianas, necessitando de tratamento com antibióticos.

Entre as causas mais comuns, podemos citar: Resfriados e demais infecções das vias aéreas superiores, gastroenterite, otites, bronquiolite, pneumonia e infecção do trato urinário.

Em crianças muito pequenas (menores de 3 meses), o hábito de cobrir com muitas camadas de roupa pode contribuir para um aumento de temperatura. No entanto, uma temperatura de 38,5°C ou superior não deve estar relacionada ao excesso de roupas e deve ser avaliada.

E o dente? Ah, o dente. Sempre surge essa dúvida, sobre se a dentição pode ser causa de febre. Há muito pouca evidência que sugira uma relação entre a eclosão dos dentes e aumento de temperatura. Embora seja difícil excluir definitivamente essa percepção, causas alternativas da febre devem sempre ser procuradas e temperaturas maiores que 38,9°C nunca devem ser atribuídas à dentição.

Ah, faltou aquela causa “boa” da febre. As vacinas. Várias das imunizações da infância podem causar febre. O momento da febre varia, dependendo da vacina administrada. Algumas podem causar febre nas primeiras 12h da aplicação. Outras podem aparecer até quase 3 dias depois.

 TRATANDO A FEBRE

Podemos começar dizendo que não necessariamente precisamos baixar a temperatura da criança. A febre é uma reação do corpo que faz parte do grupo de respostas do organismo contra uma infecção. Ela tem um papel. Mas é claro que pode ser fonte de mal-estar. Dessa forma, pode haver benefício em reduzir a temperatura.

Claro que cada caso é um caso. Algumas crianças, com histórico de doenças cardíacas ou convulsões febris, devem ter sua temperatura controlada rapidamente em casos de febre.

Se você não tem certeza se a febre da criança precisa ou não ser tratada, entre em contato com o pediatra da criança.

A primeira opção de tratamento da febre são os medicamentos antitérmicos. Aqui no Brasil, dipirona, paracetamol e ibuprofeno estão entre as opções mais comumente utilizadas. Leia a bula e converse com seu médico para entender melhor a indicação e posologia de cada um deles.

Outra modalidade de tratamento para a febre e o mal-estar relacionada é a oferta abundante de líquidos (os pais dos meus pacientes devem estar cansados de me ouvirem falar disso...). O aumento da temperatura corporal pode aumentar o risco de desidratação. Muitas vezes, durante a febre, o apetite está reduzido. No entanto, líquidos como leite materno, fórmula e água devem ser oferecidos com frequência. Se a criança não conseguir beber líquidos por mais de algumas horas, o cuidador deve consultar o pediatra.

Ter febre faz com que a maioria das crianças se sinta cansada, pouco disposta. O descanso frequente é importante no processo de recuperação. Atividades com menos sobrecarga física são indicadas. O retorno à escola ou creche deve acontecer após 24h da resolução da febre.

Finalmente, o famoso banho frio ou morno. A resfriamento ativo pode atuar como adjuvante ao tratamento medicamentoso. Não devemos, no entanto, utilizar temperaturas muito frias.

PRECISO LEVAR NA EMERGÊNCIA?

Vou responder primeiro e explicar depois.

Provavelmente não.

Na maioria dos casos, uma criança com febre pode ser observada e tratada em casa. Claro que é importante sabermos quais são os sinais que fazem com que uma avaliação médica seja necessária. Mas, com regra geral, se a criança parece bem, ativa, capaz de, como costumo dizer, “executar suas funções sociais” (comer, brincar, dormir, reclamar...), não deve precisar ser vista pelo médico, ao menos não de forma urgente.

Vamos lá então. Como regra geral, em que situações as crianças devem ser avaliadas por profissionais de saúde por conta de febre?

- Bebês com menos de três meses de idade com temperatura de 38°C ou mais, mesmo que pareçam estar bem.

- Crianças de três meses a três anos com temperatura acima de 38°C por mais de três/quatro dias ou que parecem doentes (em especial, no caso de recusa a ingestão de líquidos).

- Crianças de qualquer idade cuja temperatura esteja acima de 39°C por mais de 24h.

- Crianças de qualquer idade que apresentem convulsões febris.

- Crianças de qualquer idade com febre sem nenhum outro sintoma por mais de sete dias.

- Crianças de qualquer idade com diagnóstico prévio de doença crônica e que apresentem febre.

Esta lista não cobre, obviamente, todas as possibilidades associadas aos sintomas e tratamento da febre. Para essa zona duvidosa, não deixe de conversar com o pediatra do seu filho. Ele poderá atuar como parceiro de vocês nas decisões de tratamento, ou mesmo de avaliação emergencial.

A parte boa é que logo logo a febre passa, e todos podem respirar um pouco mais aliviados.

 

 

 

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