Laringite

Tosse, tosse e mais tosse.

E quando o médico fica doente? Calma! Esse não é um texto filosófico sobre a fragilidade de vida. Eu tive uma laringite bem chatinha na última semana. Já estou melhor, mas esse episódio me fez ter vontade de falar sobre o tema. Claro que, nas crianças, a laringite se apresenta com características bem diferentes do que aquelas que mostra nos adultos. E é sobre o impacto nelas, crianças, que falaremos hoje.

A laringe é uma estrutura que se localiza entre a faringe (a popular garganta) e a traqueia, via de entrada do ar para os pulmões. Na laringe se localizam as cordas vocais, responsáveis por nossa capacidade de emitir sons. A laringite nada mais é do que a inflamação da laringe, levando a consequências que afetam a respiração, a fala e, indiretamente, a alimentação.

A causa mais comum de laringite em crianças é a infecção viral (um tema, convenhamos, comum na faixa etária). Em alguns casos, infecções bacterianas podem ser as responsáveis pela laringite. Mais raramente, respostas de origem alérgica podem desencadear o quadro. Fumaça de cigarro é um gatilho comum. Finalmente, de forma não tão frequente em crianças, a doença do refluxo gastroesofágico (nenhuma relação com o refluxo fisiológico do bebê) pode disparar episódios de laringite.

Mas, na maioria dos casos, são mesmo os vírus respiratórios comuns que causam a laringite. E os sintomas mais comuns? Para organizar melhor, vamos dividir a descrição da laringite em dois cenários. O quadro mais grave, que acontece com mais frequência em bebês e crianças pequenas, com comprometimento respiratório agudo. E a versão mais comum da laringite em crianças mais velhas, que afeta principalmente a voz.

Laringite Estridulosa

Essa apresentação da laringite traz muita preocupação para mães, pais e cuidadores. A laringite estridulosa se caracteriza pela diminuição do espaço para passagem de ar pela laringe. Isso acontece porque a inflamação local leva ao edema (inchaço) da mucosa da laringe, estreitando o caminho que o ar precisa fazer da boca e do nariz da criança até os pulmões. Natural que aconteça com mais frequência em crianças pequenas, já que, obviamente, suas laringes já sejam menores que as de crianças maiores.

Quando isso acontece, a criança apresenta uma dificuldade respiratória súbita, sendo facilmente audível um som parecido com um ronco fino vindo da altura do pescoço. Esse é o chamado estridor, que qualifica esse subtipo de laringite. Além disso, o esforço respiratório vem frequentemente acompanhado de uma tosse intensa, com uma sonoridade característica, descrita como “tosse metálica” ou “tosse de cachorro” (dá pra imaginar como é, não?).

Esse cenário demanda atenção imediata. Muitas vezes, em crianças que nunca apresentaram quadros desse tipo, é necessário buscar assistência médica, para reverter o processo com medicações inalatórias e, eventualmente, por via oral e venosa. Felizmente, a imensa maioria dos casos evolui muito bem, com recuperação plena em questão de horas ou dias. Ainda assim, fica o alerta sobre a necessidade de, sempre que houver a percepção do desconforto respiratório intenso, entrar em contato com seu pediatra ou procurar atendimento.

Muita tosse e rouquidão

Mais frequente do que o quadro de laringite estridulosa descrito acima é o cenário em que a criança apresenta muita tosse (com o mesmo padrão “canino”) mas sem desconforto respiratório. Crianças mais velhas tendem a apresentar esse quadro. Além da tosse, a rouquidão intensa se faz presente. A criança pode permanecer sem voz por alguns dias. É comum também a descrição de sensação de coceira por dentro da garganta.

Mas o maior incômodo é mesmo a tosse no período noturno. Frequentemente as crianças apresentam dificuldade para dormir por conta da tosse intensa. E, claro, crianças com dificuldade para dormir equivalem a adultos com dificuldade para dormir. Como veremos a seguir, existem estratégias para aliviar essa tosse, mas, no geral, a laringite garante umas três ou quatro noites um pouco desafiadoras.

Como vovó já dizia

Começando com o aviso padrão: se seu filho está doente, é importante comunicar o seu pediatra. Esse é o melhor jeito de entender as melhores medidas a serem tomadas, e, claro, ajuda a trazer tranquilidade para os pais, mães e cuidadores. Dito isto, algumas estratégias bem antigas e “não exatamente médicas” podem ajudar bastante no alívio da tosse. Vamos a elas.

1- Mel: uma colherada de mel antes da hora de deitar pode diminuir a intensidade da tosse e ajudar a criança a pegar no sono de forma mais tranquila.

2- Elevar a cabeceira da cama: um ou dois travesseiros extras podem ajudar a criança a lidar com a secreção e, consequentemente, tossir menos.

3- Não gritar, mas também não sussurrar: que gritar não faz bem para quem está rouco, é fácil de imaginar. Mas sussurrar também sobrecarrega as cordas vocais. É importante falar baixo, mas de forma normal, sem sussurros.

4- Água: a mucosa ressecada contribui para a tosse. É importante beber muita água para diminuir a sensação de irritação na garganta.

5- Vapor: essa é das antigas. Ligar o chuveiro quente e deixar o vapor se acumular, com a criança respirando por alguns minutos o vapor d’água também traz alívio. Mas não pra deixar a criança embaixo da água muito quente não, ok? Só respirando o vapor mesmo.

Claro que, além dessas estratégias, existem diversas condutas medicamentosas que podem ajudar a aliviar os sintomas da laringite. Por isso, é sempre importante conversar com seu médico. E, claro, sempre lembrar que a laringite é, na maioria dos casos, uma condição autolimitada. Ou seja, depois de poucos dias, tudo retorna ao normal, e as crianças recuperam a voz e voltam a sair gritando por aí.

Até a próxima!

 

 

 

 

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