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Mães, Pais e Profissionais de Saúde nas Redes Sociais
Entre a Cobrança e a Empatia
As redes sociais desempenham um papel significativo na vida moderna, proporcionando aos pais e cuidadores uma plataforma para compartilhar experiências, obter suporte e aprender com outros membros da comunidade parental e profissionais de saúde. No entanto, é importante abordar um aspecto que pode impactar negativamente o bem-estar emocional: a pressão da comparação.
Ao percorrer os perfis de outros pais, mães e profissionais de saúde, é fácil cair na armadilha da comparação. Fotos impecáveis, marcos de desenvolvimento e conquistas aparentemente extraordinárias podem gerar sentimentos de inadequação e pressão para atender a padrões muitas vezes inatingíveis.
Muitas vezes o que vemos aparecer, não apenas nas redes propriamente ditas, mas no convívio com pais e cuidadores nas conversas no consultório ou por telefone, é uma “competição não declarada”. É quase como se estivesse acontecendo o “Campeonato Mundial da Parentalidade”, em que se tenta sobressair com relação aos demais na função de mãe, pai ou cuidador de crianças. Isso é parte do padrão das redes, estimulado pelos algoritmos. Mas nesse campo (a parentalidade) carrega fatores estressores particulares, como comprovado em trabalhos científicos.
É imperativo lembrar que as redes sociais oferecem apenas uma visão parcial da realidade. Cada família tem sua própria jornada, enfrenta desafios únicos e celebra sucessos à sua maneira. Os momentos difíceis e as dúvidas, embora comuns, raramente são compartilhados online.
Ao confrontar essas comparações, é crucial cultivar a empatia consigo mesmo (e com as crianças, principalmente!). Cada família está fazendo o melhor que pode, e o “sucesso” de uma criança não deve ser medido pelos padrões observados online, mas sim pelo que é observado e vivenciado diariamente, tanto pelos responsáveis quanto pelos profissionais de saúde que participam do processo.
O papel do profissional de saúde
Da mesma forma que pais e mães, profissionais de saúde que atendem crianças também utilizam as redes sociais. Muitas vezes, como forma de divulgar seu trabalho e expor informações técnicas de caráter educacional (tipo eu, né...).
Mas devemos tomar certos cuidados, pois, pela nossa posição de “autoridade científica”, temos um certo poder (o biopoder já tão discutido pelo filósofo Michel Foucault). É importante que sejamos, como médicos e profissionais de saúde, fontes de acolhida, e não de cobrança e de pressão sobre mães e pais. Em especial nesse meio já potencialmente tóxico das redes sociais.
Além disso, é importante reconhecer que os profissionais de saúde nas redes sociais têm suas próprias experiências e abordagens únicas. O que funciona para uma família pode não ser adequado para outra, pois cada criança é única. Não existe uma única abordagem "certa" para a parentalidade.
Passos práticos
O uso das redes sociais é uma realidade. Tanto para famílias quanto para profissionais de saúde. No caso dos profissionais, podemos evitar cair na armadilha da cobrança excessiva e da prática do “NÃO!” (“não faça isso com sua criança!”; “isso é errado!” e similares). Que possamos ser ferramentas de acolhimento e tranquilidade para pais e cuidadores.
Já no caso dos pais, é importante promover uma cultura de aceitação e apoio mútuo. Em vez de comparar, celebremos as conquistas uns dos outros, compartilhemos as lutas e ofereçamos suporte. Juntos, podemos criar um ambiente online mais realista, encorajador e empático.
Da minha parte, acredito em construir um ambiente de conversa, de troca de experiências, com muitas possibilidades e pouco “certo e errado”. O conhecimento é compartilhado. Sempre.
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Essa é uma semana especial para mim. Toda minha realidade como médico pediatra (e como ser humano também) mudou completamente há 10 anos, quando me tornei pai. Entendo que são “funções” obviamente separadas, mas que sem dúvida se retroalimentam. Minhas alegrias e dificuldades como pai me fazem admirar muito as famílias que encontro no dia a dia como médico, que enfrentam com frequência desafios enormes para dar o melhor a seus filhos. É muito bom compartilhar essas experiências e vivências como pai e como médico. É um aprendizado contínuo e muito recompensador.
Obrigado pela parceria.
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