Otite Média Aguda

A velha e boa (Boa? Boa não!) dor de ouvido.

Quando se trata da saúde dos nossos filhos, cada sinal de desconforto suscita preocupação e atenção imediata. Um cenário que frequentemente inquieta pais e cuidadores é a otite média aguda em crianças. Essa inflamação do ouvido médio, embora comum, exige compreensão e medidas adequadas para assegurar o bem-estar dos pequenos. Na newsletter de hoje, iremos explorar os sintomas característicos da otite média aguda, bem como as dúvidas mais comuns e abordagens terapêuticas recomendadas.

Sintomas: A otite média aguda manifesta-se por meio de uma série de sintomas que podem afetar consideravelmente a criança. Dentre os mais frequentes, podemos citar os seguintes:

1. Dor de Ouvido: As crianças frequentemente expressam desconforto, indicando dor no ouvido afetado. Bebês podem puxar a orelha ou chorar de maneira mais intensa.

2. Febre: O aumento da temperatura corporal é uma reação comum à infecção.

3. Irritabilidade: Devido à dor e desconforto, a criança pode apresentar irritabilidade acentuada e dificuldade para dormir. Em bebês, é um dos sintomas mais frequentes.

4. Dificuldades Auditivas Temporárias: A acumulação de fluidos no ouvido médio pode resultar em perda auditiva temporária. Crianças mais velhas referem a sensação de estarem com os ouvidos “entupidos” ou “abafados”.

5. Secreção ou Drenagem: Em alguns casos, é possível observar a saída de líquido ou pus do ouvido. Há ainda, frequentemente, tosse, coriza e presença de secreção nas vias aéreas superiores.

Diante desses sintomas, mães e pais frequentemente já pensam: “Ih! Dor de ouvido. Deve ser otite. Acho que vai precisar de antibiótico.” Esse é um pensamento natural. Essa associação entre otite média aguda e o tratamento com antibióticos é algo culturalmente estabelecido em nossa sociedade.

Mas a evidência científica não é tão clara assim. Para entender quem de fato precisa de antibióticos, torna-se necessária a avaliação médica. É através dessa avaliação, que engloba o exame físico geral e também a otoscopia (visualização direta da membrana timpânica), que o médico pode selecionar a melhor forma de tratamento.

Nas imagens a seguir, podemos visualizar a diferença entre uma membrana timpânica normal (1), uma membrana timpânica com sinais de otite média aguda (2), de causa bacteriana, e ainda uma otite média com efusão (produção de secreção), mas sem sinais de infecção bacteriana aguda (3).

(1) - Membrana timpânica normal

(2) - Otite média aguda

(3) - Otite média com efusão

Uma vez que se estabelece o diagnóstico de otite média aguda, é hora de pensar no tratamento. A primeira etapa é o tratamento dos sintomas agudos, em especial a dor, a febre e o acúmulo de secreção nas vias aéreas superiores. Analgésicos e lavagem nasal fazem bem esse papel. Na maior parte dos casos, medicamentos como corticosteroides ou antialérgicos não estão indicados. Além disso, medidas como repouso e hidratação frequente são importantes para o controle do mal-estar associado à infecção.

Mesmo naqueles casos em que há sinal de inflamação aguda na membrana timpânica, com possível infecção bacteriana, é possível assumir uma postura mais conservadora com relação ao início do antibiótico. Muitas vezes, mantendo a observação e o controle dos sintomas por 2 ou 3 dias, é possível observar melhora e, consequentemente, evitar o uso desnecessário de antibióticos. Em caso de ausência de melhora ou sinais de piora clínica, basta então iniciar o antibiótico. Nesses casos, a recuperação tende a ser rápida, com melhora dos sintomas em torno de 3 dias após o início do tratamento.

É claro que, para essa estratégia funcionar, o pediatra e os responsáveis precisam “estar na mesma página”. Podendo manter a comunicação frequente conforme necessário e compartilhando informações (dúvidas e percepções por parte dos cuidadores, e a experiência clínica e conhecimento técnico do profissional). Dessa forma, a criança pode ter “o melhor dos dois mundos”: nem se expõe desnecessariamente aos antibióticos, nem permanece com uma infecção não tratada.

Cada vez mais, aliás, vejo essa parceria como parte fundamental da minha prática pediátrica. A troca de informações, claro, preferencialmente na consulta, mas também fora do espaço físico do consultório, acrescenta muito no melhor cuidado prestado para as crianças, e para a tranquilidade e confiança por parte de pais, mães e cuidadores.

Retornando à otite média, a percepção de alguns sinais é importante, porque esses sinais podem indicar complicações que precisam ser tratadas de forma mais rápida. Podemos citar o inchaço e vermelhidão nas regiões imediatamente atrás das orelhas, a drenagem de pus em grande quantidade pelo canal auditivo, a perda auditiva total. E, como em toda doença infecciosa pediátrica aguda, a incapacidade, por parte da criança, de executar suas atividades mais comuns, como ingerir líquidos, conversar, brincar etc. Nesses casos, o médico que acompanha a criança deve ser avisado prontamente. Se isso não for possível, deve-se buscar atendimento médico assim que possível.

Mesmo assim, a otite média é uma doença tão frequente quanto tratável. A famosa “dor de ouvido” é chata, tira o sono de adultos e crianças, mas com os cuidados adequados, logo se resolve.

Qualquer dúvida, estou por aqui.

Até a próxima!

 

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