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Suplementação Vitamínica na Infância
Princípios e Recomendações
Esse é um tema corriqueiro nas consultas de pediatria. Mães, pais e cuidadores buscam sempre informações sobre a necessidade do uso de suplementos vitamínicos. No entanto, apesar do assunto ser muito debatido e estudado, as evidências científicas não são tão robustas como se poderia imaginar.
O conhecimento científico sobre o tema é bem amplo no que diz respeito à identificação das causas, mecanismos e consequências das deficiências vitamínicas graves. Esse é o caso, por exemplo, de doenças no sistema gastrointestinal que dificultam a absorção de determinadas vitaminas e nutrientes provenientes dos alimentos. Nesses casos, frequentemente associados, por exemplo, à deficiência de algumas vitaminas do complexo B, não há dúvida sobre o benefício da suplementação.
Mas, e no cenário mais comum? A criança que apresenta um bom desenvolvimento, sem sinais que sugiram alguma alteração patológica em andamento, precisa de alguma suplementação vitamínica? Nesse caso, mesmo as entidades governamentais de gestão em saúde não concordam muito.
No Brasil, o Ministério da Saúde atualmente recomenda, de rotina, a suplementação de vitamina K para recém-nascidos (feita ainda na maternidade, por via injetável) para prevenir alterações na coagulação do sangue, e o uso de vitamina A após os 6 meses de vida. A ideia por trás dessa suplementação seria inibir os prejuízos para o desenvolvimento da visão e da imunidade associados com a deficiência dessa vitamina. Quem está sob maior risco de deficiência de vitamina A são as crianças que recebem poucos alimentos de origem animal e poucos vegetais ricos em caroteno (abóbora e cenoura, por exemplo).
No entanto, como forma de ressaltar o componente de incerteza envolvido, essa suplementação é feita em doses bem controladas. O uso excessivo pode levar à hipervitaminose A, que pode ser tão prejudicial quanto a deficiência.
Em outros países, as recomendações são diferentes. Nos EUA, a Academia Americana de Pediatria recomenda, além da vitamina K ao nascimento (esse sim, um consenso), a suplementação de vitamina D após os 6 meses. Existe um potencial benefício no crescimento ósseo, força muscular e imunidade de forma menos dependente da ingestão de leite/fórmula infantil e também da exposição solar. Mas, nesse caso, estamos falando de doses baixas, dentro nas necessidades diárias recomendadas. Existem estudos com o uso de vitamina D em doses muito elevadas, com promessas de benefícios muito amplos à saúde, mas cuja evidência não se sustenta até o momento. Sem contar que o risco de Hipervitaminose também existe.
Finalmente, no Reino Unido, o NHS (Serviço Nacional de Saúde) recomenda que as crianças recebam, após os 6 meses, suplementação das vitaminas A, C e D. Podemos perceber que não existe uma única posição definida sobre o assunto.
Diante de tudo isso, talvez a melhor forma de abordar a suplementação vitamínica em crianças seja de forma individualizada. Utilizando a melhor evidência científica e as recomendações das entidades mais qualificadas, e olhando para o indivíduo. Há sinal sugestivo de deficiência vitamínica? Ou de alteração clínica que facilite essa deficiência? Vale fazer a dosagem das vitaminas no sangue para conferir? Todas essas perguntas são importantes. E todas as perguntas que os responsáveis pelas crianças têm são importantes. Por isso mesmo, o estabelecimento de uma parceria com seu pediatra pode ser muito benéfico para elaborar um plano de suplementação, caso necessário, que faça sentido para cada criança.
Não existe fórmula mágica ou panaceia, mas o cuidado individualizado tem o potencial de trazer o melhor para a saúde de todos.
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