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Transtorno do Espectro Autista
Uma visão do generalista para as famílias
Quando mães e pais se deparam com seus filhos apresentando desenvolvimento e comportamento diferentes do esperado, muitas vezes têm uma “sombra” a pairar sobre suas cabeças: o medo de que seu filho possa estar no espectro autista.
O TEA é, ao mesmo tempo, um “assunto da moda” e um tabu. Embora fale-se muito sobre a necessidade de inclusão e atenção às pessoas que estão no espectro, sob o ponto de vista de cada núcleo familiar, o tema é sensível, fonte de angústia e medo para os cuidadores.
Sob o ponto de vista do pediatra geral, que acompanha o desenvolvimento da criança (e também de sua unidade familiar, é claro), alguns pontos são fundamentais.
A definição mais atualizada do TEA envolve a detecção de alteração em dois domínios: comunicação/interação social e comportamentos repetitivos ou restritivos. Claro que a imagem de uma criança que não faz contato visual, não fala e faz movimentos repetitivos contínuos está bem presente no imaginário de todos. Mas muitas vezes os sinais são mais sutis. Por isso, a atenção médica direcionada a essa questão é fundamental. A partir desses princípios, utilizamos ferramentas de triagem, buscando detectar possíveis alterações já nos primeiros anos de vida da criança.
Durante as consultas regulares dos 18 meses e 24 meses de vida, submetemos as famílias a questionários de avaliação do desenvolvimento da criança, que permitem a identificação de sinais de alerta para o possível diagnóstico. Uma das ferramentas mais utilizadas é o questionário M-CHAT R/F. (link)
Essa avaliação permite, em muitos casos, o diagnóstico precoce. Isso tem um papel muito importante na atenção à criança com TEA, pois permite que a intervenção seja rapidamente iniciada. As intervenções terapêuticas baseadas em evidência, sejam educacionais, comportamentais ou de reabilitação, mostram resultados muito positivos no desenvolvimento da criança.
O conjunto de intervenções terapêuticas busca, prioritariamente, que a criança possa alcançar seu maior potencial de desenvolvimento, com qualidade de vida, tanto individual quanto familiar. Esse processo envolve diversos profissionais de saúde (psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas), mas também envolve o ambiente escolar e, é claro, a família.
O papel do médico, em especial do pediatra, é atentar para as possíveis condições clínicas associadas ao TEA. Entre elas, é importante destacar distúrbios do sono, alterações na alimentação (incluindo deficiências vitamínicas e obesidade) e epilepsia. Todas essas condições são mais comuns entre crianças no espectro autista do que na população geral. Diagnosticar, orientar e tratar essas condições permite uma melhor possibilidade de resposta às demais intervenções terapêuticas.
Em alguns casos, para melhor controle de alguns sintomas comportamentais, pode ser necessária a terapia medicamentosa, em geral orientada por um neurologista ou psiquiatra. Assim como as terapias de reabilitação, a medicação deve ser encarada como uma ferramenta que pode ajudar a criança em seu processo terapêutico.
O Transtorno do Espectro Autista pode ser extremamente desafiador para as crianças e suas famílias. Carrega estigmas, mexe com expectativas sobre a parentalidade, demanda uma atenção constante na busca pelo desenvolvimento amplo do potencial de cada criança.
Nesse processo, o pediatra pode (e deve) ser um parceiro da família na busca pelas melhores intervenções e pelos ajustes necessários ao longo do caminho.
Em caso de dúvidas ou sugestões de temas, responda a esse e-mail. Tentaremos responder sempre que possível.
Disclaimer: a informação contida nesta newsletter tem caráter meramente informativo, não se caracterizando como aconselhamento médico. O conteúdo desta comunicação não tem objetivo de substituir avaliações médicas, diagnósticos ou condutas. Em caso de necessidade, procure seu médico ou profissional de saúde.
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